quarta-feira, 20 de março de 2013

Killer Joe - Matador de Aluguel


Em um dos ótimos diálogos de Killer Joe, Chris Smith (Emile Hirsch) conta ao assassino profissional Joe Cooper (Matthew McConaughey) que, antes de se envolver com o tráfico de drogas, tentou montar uma fazenda. A empreitada deu errado quando um gambá com o vírus da raiva invadiu o local e contaminou os outros animais, que tiveram que ser sacrificados. O caso, como vemos ao final do filme, é claramente uma metáfora da situação vivida pela própria família de Chris, com o gambá sendo substituído pelo personagem-título da obra.

Não que o ambiente familiar ao qual o jovem pertence fosse, antes da entrada de Joe na narrativa, um exemplo de felicidade. Tanto seu pai Ansel (Thomas Haden Church), a madrasta Sharla (Gina Gershon) e - em menor grau - a irmã mais nova Dottie (Juno Temple), são indivíduos mesquinhos e desprezíveis, assim como o próprio Chris. As relações mantidas dentro daquele ambiente não envolvem a harmonia e o bem-estar familiar, mas questões monetárias ou sexuais. Envolvido com traficantes, aos quais deve uma grande quantia de dinheiro, não é surpreendente quando o jovem, apoiado pelos outros três parentes, resolve matar a própria mãe (também descrita como uma pessoa reprovável), a fim de receber e dividir entre eles seu seguro de vida milionário.

É aí que entra na narrativa o personagem-título. Vivido por Matthew McConaughey como um sujeito frio, de fala pausadamente calculada, Joe esconde por trás de seus bons modos um psicopata cruel. Ele será o responsável pelo assassinato, mas precisa do dinheiro adiantado. Como seu pagamento também sairá do seguro de vida, ele recebe como garantia a virginal Dottie, por quem se atraiu. A menina - talvez a única figura ingenuamente inocente da trama - é trocada como uma mercadoria pelo pai e pelo irmão. A partir daí temos um roteiro onde os erros se sucedem e seus personagens mesquinhos aos poucos vão descendo aos níveis mais baixos em que um ser humano pode chegar - com direito a um clímax espetacular na última meia hora do longa.



McConaughey tem aqui a atuação de sua carreira. Depois de ficar estigmatizado pelas comédias românticas genéricas que fez nos últimos anos, 2012 marcou seu retorno aos filmes mais complexos. Killer Joe é o ponto alto do  seu ciclo de grandes performances no ano (as outras foram em Magic Mike, Bernie e The Paperboy). Da mesma forma, o desempenho de todo o elenco é sublime, com destaque para Gina Gershon, que cria uma Sharla desprezível, mesmo considerando o baixo padrão daquela família. A cena envolvendo McConaughey, Gershon e uma coxa de galinha frita é antológica e entra, desde já, na lista das melhores do ano.

Retomando uma carreira que parecia em seu fim, William Friedkin, diretor dos clássicos Operação França e O Exorcista, realiza aqui um trabalho de direção forte e corajoso, sem medo de expor seus personagens a situações constrangedoras, repletas de violência física e psicológica. Inspirado pelo brilhante roteiro de Tracy Letts (baseado em uma peça escrita pelo mesmo), Friedkin investe em uma tensão constante, culminando no já citado clímax catártico.

Marcando o retorno magistral de um diretor experiente e talentoso que não se rendeu à fórmula hollywoodiana, Killer Joe também consolida a ascensão de um ator espetacular que tinha se acomodado em papeis medíocres. Um filme fantástico que mistura a violência dos trabalhos de Quentin Tarantino com uma típica comédia de erros dos irmãos Coen. 

Killer Joe (EUA, 2012). Dirigido por William Friedkin. Com Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Juno Temple, Thomas Haden Church, Gina Gershon e Marc Macaulay.


Nenhum comentário:

Postar um comentário