domingo, 25 de março de 2012

Jogos Vorazes


Nota: 6/10

Ambientado no futuro, em uma sociedade cujo governo autoritário, para controlar sua população, investe em uma espécie de reality show em que 24 adolescentes de diferentes classes sociais se enfrentam até restar apenas um vivo, Jogos Vorazes vem sendo comparado, em todos os textos que falam sobre o filme, a obras como 1984 e Admirável Mundo Novo. Mas, ao contrário das obras de George Orwell e Aldous Huxley, o filme (já que não li o livro) não parece muito interessado em desenvolver as regras de seu universo, resultando em uma crítica política um tanto ingênua e 
infantilizada.

Contando com um elenco muito bom, encabeçado pela ótima Jennifer Lawrence (que praticamente repete seu papel em Inverno da Alma, só que com menos complexidade), Jogos Vorazes é tecnicamente eficiente, com sua direção de arte e fotografia expondo bem as diferenças entre o cinzento distrito 12 e a colorida capital. O mesmo não pode ser dito do roteiro escrito por Gary Ross, Billy Ray e Suzanne Collins (autora do livro em que o filme é baseado) que, por mais que consiga desenvolver bem seus personagens, não faz o mesmo com o universo da história. Não é a toa que, em mais de um momento durante os jogos, surja uma espécie de Pedro Bial futurista (Stanley Tucci, muito bem no papel) explicando as regras da competição para o público - uma interferência artificial que só comprova as falhas do texto. Da mesma forma, a adaptação não parece ter sido bem feita, tornando grande parte do primeiro ato desnecessária, enquanto que momentos que mereciam ser melhor explicados não o são, como a pequena rebelião dos distritos durante os jogos (e o porquê de algo assim nunca ter acontecido antes).


Mas a grande decepção de Jogos Vorazes são mesmo as escolhas do diretor Gary Ross e de seu roteiro. De um lado ele pode ser elogiado por, nas cenas de ação, apostar em cortes rápidos e planos detalhe, evitando uma espetacularização da violência, o que é coerente com a mensagem principal do filme. Mas por outro, ao descartar cenas mais gráficas e ao transformar os vilões do filme em caricaturas maniqueístas, o próprio discurso do longa é enfraquecido, já que as mortes, quando ocorrem, surgem sem nenhum impacto - com uma única exceção na metade final do longa.

A covardia de seus realizadores transforma Jogos Vorazes em uma obra insossa, que se pretende crítica (o que é um avanço em comparação com outras séries adolescentes do momento), mas que nunca sai do lugar comum. Essa decepção é bem retratada pelo final, onde a ordem é reestabelecida e nada parece ter mudado - por mais que saibamos que ainda iremos ter duas continuações no cinema. É como se o filme dissesse aos jovens que, ao invés de se rebelar e tentar mudar o mundo, vale muito mais a pena seguir as regras do jogo e voltar vivo para seu lar insignificante.

The Hunger Games (EUA, 2012). Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Stanely Tucci, Elizabeth Banks, Liam Hemsworth, Wes Bentley, Lenny Kravitz, Amandla Stenberg, Willow Shields, Paula Malcomson e Donald Sutherland.


Nenhum comentário:

Postar um comentário